A cidade de Amsterdã, na Holanda, é conhecida como a cidade das bicicletas. Quase todo mundo que vive lá – adultos, crianças, idosos – ou mesmo quem está só de passagem, como os turistas, se movimenta pelas ciclovias para fazer tudo: ir à escola, ao mercado ou visitar amigos. Há 40 anos, porém, a situação era bem diferente e foram as crianças as responsáveis por essa mudança.
A história começa no bairro De Pijip, lugar que, em 1972, era sujo, bagunçado, barulhento e onde muitas pessoas se amontoavam em casas pequenas e velhas. As ruas eram espaços quase exclusivos para os carros, por isso aconteciam muitos atropelamentos nessa confusão de gente sem ter por onde andar.
Como as crianças também não tinham onde brincar, elas começaram a conversar sobre isso na escola. Escreveram redações e depois foram às ruas para saber o que os adultos achavam. Muitos concordaram: eram carros demais, que causavam acidentes e poluição. Tudo parecia um imenso estacionamento e podia ser mais tranquilo se as pessoas trocassem os carros por bicicletas. 🚲
Quando decidiram fechar uma rua para brincar, os adultos que andavam de carro não gostaram nem um pouco. Mesmo assim, as crianças insistiram. “Se a cidade não faz nada, nós temos que fazer”, diziam. E elas fizeram: pintaram cartazes e caminharam em passeatas, gritando no alto-falante: “Tirem os seus carros do caminho que nós queremos brincar”.
Durante essa campanha, meninas e meninos de várias idades fecharam as ruas muitas vezes, ainda que logo depois a polícia abrisse para os carros passarem. Os pequenos manifestantes também conversaram com um agente de trânsito e com um vereador da cidade. Tudo isso foi filmado e o documentário “As Crianças de Pijip” passou na TV. Naquele tempo, não existia internet e a televisão era um dos principais meios de comunicação.
Hoje, um vídeo pode ter milhares de visualizações em segundos, mas em 1972, era pela TV, pelo rádio e pelos jornais que os assuntos se tornavam conhecidos. Depois do documentário, diversos jornais escreveram matérias sobre Pijip e, com a repercussão, as mudanças finalmente aconteceram.
As crianças limparam as ruas, desenharam amarelinha no asfalto, levaram patins, bolas, bicicletas e ocuparam, com segurança, o lugar que conquistaram. A rua da brincadeira acabou transformando todo o bairro, que ficou mais bonito, com casas reformadas, calçadas mais largas e menos estacionamentos. Sobrou mais espaço para árvores e pessoas, que passaram a caminhar, andar de bicicleta e, claro, brincar.