Com o que as crianças sonham? Do que elas têm medo? Nenhum adulto pode responder melhor a essas perguntas do que as próprias crianças. E foi isso o que a Avante – Educação e Mobilização Social fez ao escutar meninas e meninos de Salvador, na Bahia. A Avante é uma ONG, organização não-governamental. Em uma ONG, pessoas que não fazem parte do governo trabalham para melhorar a sociedade em que vivemos.
Em 2022, a Avante escutou crianças do Quilombo do Paraíso, no subúrbio ferroviário de Salvador. O subúrbio é uma região com bairros construídos ao lado de onde, até 2021, passava o único trem da cidade. Nessa ocupação, vivem 120 famílias do Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB), e lugar deu a muitas meninas e meninos o direito à moradia que só estava garantido no papel. O nome “quilombo” marca a resistência do povo negro no Brasil. Já o Paraíso vem do que se vê lá de cima das Colinas de Periperi: o mar e a mata Atlântica.
Neste projeto, chamado de “Estação Subúrbio – nos trilhos dos direitos”, a brincadeira foi escolhida como uma ferramenta poderosa, capaz de combater a violência. As crianças contaram que gostam de brincar de escola, de boneca, de empinar pipa e de subir no pé de caju. Tinham que ter cuidado quando os carros passavam e não dava para irem sozinhas a qualquer lugar.
Elas lembraram das últimas eleições e começaram a imaginar: se criança pudesse se eleger, mudariam as casas do Paraíso, e todas teriam cozinha. Também fariam parques e não teriam mais medo da polícia. A educadora Maria Thereza Marcílio defende que escutar as crianças deveria ser um fundamento para a sociedade.
Um fundamento é como se fosse o chão, e a sociedade, todas as pessoas que vivem, se relacionam e constroem em cima desse chão. “Quando a gente escuta as crianças, elas se mobilizam, participam e isso traz mudanças para toda a comunidade”, disse Maria Thereza.
Já em 2015, os educadores da Avante foram aos bairros do Rio Vermelho e do Calabar, onde entregaram câmeras para que os pequenos moradores filmassem o dia a dia. As crianças falaram sobre o direito de brincar, de descobrir coisas novas e de ter mais espaço livre.
Em realidades diferentes, elas contaram sobre o medo do escuro e de zumbis, mas também sobre o medo da polícia e do tiroteio. Ensinaram que comprar não é mais valioso do que ser. É mais importante a vida do que as coisas, elas disseram.