A primeira infância na presidência do Brasil

As crianças estão entre as mais importantes para quem quer governar o país? O advogado e especialista em direitos das infâncias, Ariel de Castro Alves, avalia as propostas dos quatro principais candidatos a presidente

O direito de ter saúde, de ter uma escola, de ter uma família e de brincar. Muito do que as crianças deste especial diriam às candidatas e candidatos se fossem suas consultoras nestas eleições aparece nos planos de governo em 2022. Quem quer chegar à presidência do Brasil sabe que essas áreas são importantes. Mas será que isso basta?

 

Para responder a essa pergunta, é preciso entender: um plano de governo é um documento com as ideias e propostas das candidatas e candidatos à presidência. Desde 2009, o plano é obrigatório e precisa ser apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que cuida das eleições. Quem não apresenta, não pode concorrer. O TSE não exige um modelo, por isso os planos têm formatos e, claro, conteúdos diferentes.

 

O advogado Ariel de Castro Alves, do Instituto Nacional da Criança e do Adolescente (INDICA), diz que devemos olhar para esses planos com cuidado. Um advogado é alguém que conhece as leis e usa esse conhecimento para defender as pessoas. O INDICA é uma organização de Brasília que promove, protege e defende os direitos das crianças e dos adolescentes

“As crianças são prioridade muito mais nas propagandas dos políticos do que nas propostas deles”, critica Ariel. Entendeu porque é preciso cuidado? Se você tem assistido TV este mês, já deve ter visto candidatas e candidatos beijando crianças e carregando bebês no colo. “O problema é que as propostas nem sempre priorizam as crianças e mais, são pensados sem a participação delas”, diz o advogado.

Nenhum dos quatro principais candidatos à presidência da República, por exemplo, abriu um canal exclusivo por onde as crianças pudessem enviar as suas ideias. Esses candidatos aparecem na frente nas pesquisas que mostram em quem as pessoas pretendem votar em outubro. E como seria esse canal? Ariel sugere: “Tinha que ser pensado para a criança, que fizesse sentido para ela, e não um canal para adultos ao qual a criança tivesse que se adaptar”.


Quando citam as infâncias, algumas dessas propostas se baseiam em documentos que foram elaborados com crianças, como as conferências lúdicas realizadas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Mas por que não ouvi-las durante a campanha? “A política já é um assunto tratado como difícil, sem dialogar com as crianças, elas ficam ainda mais distantes”, observa Ariel. Para ele, a ideia de “nada sobre nós sem nós” não tem valido no Brasil.


Outra característica dos planos de quem quer ser presidenta ou presidente é que esses documentos estão muito genéricos, avalia Ariel. O advogado explica que, como as coligações envolvem muitas pessoas, às vezes até com ideias diferentes, é complicado aprovar propostas mais detalhadas. Coligações são pactos entre dois ou mais partidos políticos que se juntam para governar.


O resultado de ter tanta gente envolvida em cada candidatura é que os planos estão muito resumidos, diz Ariel. “Parecem mais diretrizes do que planos, em que poucos compromissos são assumidos”. Diretrizes, você lembra, são direções. Já um plano é um texto mais completo, que mostra o que se quer fazer e como. Se escutassem mais as crianças, acredita o advogado, os políticos tratariam como prioridade o que muito adulto acha uma bobagem, como o direito de brincar, por exemplo, essencial para o desenvolvimento das infâncias.

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Propostas dos candidatos à presidência